O SURGIMENTO DA ASSOCIAÇÃO ADS EM ANGOLA

Nesta entrevista com Pe. Aurélio Neto, Salesiano de Dom Bosco, teremos a oportunidade de saber um poquinho mais acerca da Associação dos Amigos de Domingos Sávio (ADS), mais propriamente sobre o seu surgimento em Angola.

1. Como surgiu essa ideia de fundar o ADS?

 A ideia não era fundar os ADS, mas começar um grupo com adolescentes, já que havia outros grupos de jovens e adultos na Paróquia de São Paulo.

Então procurei reunir alguns adolescentes: meninos e meninas. Reunimo-nos várias semanas, depois achamos por bem escolher um nome para o grupo.

Apresentei várias biografias de santos e santas, algumas com slides e outras contando factos da vida dos santos e santas.

Quando se sabe pouco da vida de um santo, mas o que se conhece é sólido e bem fundamentado, quase devemos agradecer a Deus.

É que muitas biografias cheias de pequenos factos, ou nos cansam ou nos vulgarizam, aumentando a crosta de rotina que, dia a dia, nos veste e despoetiza.

Para meu espanto, uma jovenzinha disse numa reunião, que o grupo poderia chamar-se Amigos de Domingos Sávio.

Fiquei muito contente, lembrei então, que por ocasião da canonização de Domingos Sávio, em 1954, a Congregação Salesiana, havia sugerido que nas casas, paroquias e colégios, tivessem grupos com nome do Santo.

Então surgiram no mundo inteiro muitas denominações: Circulo Domingos Sávio, Club Domingos Sávio, Amigos de Domingos e outras denominações, tudo para homenagear São Domingos Sávio.

Por sinal, quando era aluno do Colégio Salesiano, pertencia ao Círculo Domingos Sávio.

Acredito, que foi mesmo São Domingos Sávio que quis ser honrado aqui no início da presença salesiana em Angola.

1. Onde e quando?

Chegamos em Luanda, em 1982, Os ADS, foi fundado em 1983, a data propriamente, não me lembro mais, mas no mês de Maio, o grupo já estava estruturado.

A sigla ADS, surgiu somente Outubro de 1983, quando as Irmãs Salesianas, chegaram: Ir. Teotónia, Ir. Juracy, Ir. Graça e Ir. Ana Bello, organizamos um Encontro-Retiro, para inscrições de novos membros. Fizemos uma “pala” para cada inscrito e colocamos a sigla ADS, a partir daí, o grupo passou a  ser conhecido como ADS.

2. Como salesiano porque não outro grupo (Laura, JDB) ?

 Começamos com os ADS, à medida que os adolescentes foram ficando jovens, vimos a dificuldade na entrada de novos adolescentes, que não se sentiam bem no meio dos mais velhos.

Então a partir 1985 organizamos o Jovem Dom Bosco (JDB). Uma vez por ano, havia a dolorosa passagem do ADS para o JDB. O grupo transformando em Associação, deu estabilidade aos membros de permanecerem sempre no grupo.

3. Quais os primeiros passos que teve que dar para a fundação do ADS?

 Como já disse antes, nunca pensei em fundar os ADS. O grupo surgiu como que um desejo de Domingos Sávio de estar entre nós. Não influenciei no nome, os adolescentes mesmo que escolheram esse nome.

Depois então, disse a todos, que os Amigos de Domingos Sávio, estavam presentes em muitas nações do mundo, e nós aqui seríamos uma pequenina célula, na época recebi muitos cumprimentos por ter fundado os ADS, principalmente da Argentina e Brasil.

4. Lembra-se onde foi a primeira reunião e quantos membros compareceram?

 A sala da reunião é onde está a Coordenação da Catequese, aí fazíamos as reuniões, como também as reuniões dos acólitos. No início era apenas 8, depois o número foi crescendo, tivemos que mudar para o salão, a reunião era aos domingos às 16 horas.

5. Como foi a aceitação e quantas etapas eram? 

A aceitação foi muito boa, muitos adolescentes queriam fazer parte dos ADS, às vezes tínhamos de suspender às inscrições. Nessa época não se falava em etapas, os ADS como movimento veio mais tarde, devido que muito membros não queriam passar para o JDB ou outros grupos juvenis.

6. Perante os irmãos de Congregação como foi aceite esse Projecto e qual era a finalidade da fundação do mesmo? E os mesmos foram concretizados?

 Diante dos outros salesianos foi muito bom mesmo, basta dizer que logo foram abrindo ADS  nos bairros Mota e Lixeira (hoje, Paróquia de São José de Nazaré), Dondo, Calulo, Luena, Cacuaco, Ndalatando, Palanka, Benguela, Viana, e algumas paróquias que não são salesianas.

O objectivo é o de sempre, formar bons cristãos e honestos cidadãos. Muitos e muitíssimos membros antigos dos ADS, continuam ainda bons cristãos.

7. O senhor Padre é o fundador ou co-fundador? Fundou com ajuda de alguém? Quem são?

 Eu cheguei em Luanda, já com obediência para ficar na Paróquia de São Paulo, no dia 13 de Dezembro de 1982.

Aqui os salesianos chegaram em Julho de 1982, quando os Franciscanos Capuchinhos entregaram a Paroquia aos Salesianos.

Logo comecei a trabalhar na Pastoral Juvenil, aos poucos fui organizando alguns grupos, tais como o Grupo dos Acólitos. Acólitos já tínhamos na Paróquia, mas não como grupo específico, que começou somente também em 1983.

As Irmãs Salesianas chegaram no dia 24 de Outubro de 1983, o ADS já existia, mas elas deram um grande impulso, ajudando sobretudo na organização do Mota e da Lixeira, como também em São Paulo. Os membros dos ADS, hoje são todos adultos, sei os nomes de alguns, mas outros já não me lembro, mas eles vêem semanalmente  nas nossas missas dominicais.

9.O ADS de Ndalatando foi continuidade do já fundado aqui em Luanda, ou foi um Projecto novo?

Chegamos a Ndalatando em 1992,  Pe. Tirso, (hoje Dom Tirso), Pe. Aurélio,   logo depois chegou o Pe. Marcelo Ciavatti. Com a guerra ficamos isolados sem contacto com as demais casas salesianas, muitos jovens se deslocaram para Luanda, com os que ficaram organizamos os ADS, já com as estruturas dos ADS de São Paulo, isso foi já em 1994.

10.Como se sente agora vendo o ADS como uma Associação e como fundador da mesma?

Os ADS tinham que caminhar para isso mesmo, já não podia ficar com a estrutura do passado, e o amor pelo grupo foi crescendo tanto que ninguém queria deixar o grupo, uma vez ADS, sempre ADS.

A título de curiosidade os ADS eram bem animados, eram capazes de animar sozinhos uma tarde recreativa. Por ocasião do Centenário da morte de São João Bosco, em 1988, apresentamos uma Cantata, em homenagem ao Santo Fundador dos Salesianos, por sinal muito bonita e bem apresentada. Dividimos os 15 quadros: com cantos, danças e encenações, entre os ADS do Mota, Lixeira e São Paulo, também foram convidadas as Noviças de São José Cluny e as vocacionadas das Irmãs do Santíssimo Salvador, os demais quadros ficaram com os ADS de São Paulo e os Acólitos. Nessa época já tínhamos uma simpatizante dos ADS, era a Betinha, que não fazia parte do grupo, depois com muita insistência de sua parte, ela participou de um quadro juntamente com os Acólitos.  

11. Será que o ADS de hoje corresponde ao Projecto inicial que tinha?

Sim, sempre será formar bons cristãos e honestos cidadãos, ocupar os jovens nos tempos livres e preparar para enfrentar a vida quando adultos.

12. Como era a metodologia da reunião usada antes, o que tem a dizer da actual?

Da actual, não posso dizer nada, nunca participei de nenhuma reunião. Mas aquela do passado, não difere muito da metodologia dos grupos actuais. Variando sempre conforme a circunstância do momento.

13. Como salesiano o que tem feito pelo ADS visto que foi fundador?

Todos os salesianos estão à disposição dos grupos, não só dos ADS, basta solicitar com antecedência para qualquer actividade que quiser contar com a presença deles.

14. Se lhe dessem a incumbência de trabalhar novamente com o ADS, quais os aspectos que mudaria ou melhoraria?

Se o grupo segue o que está no Regulamento, já está no bom caminho. O próprio grupo é que deve sentir a necessidade de mudar alguma coisa que não vai bem. Não o padre ou quem está na liderança.

15. Qual a opinião que tem acerca do ADS hoje?

Os ADS vão  bem, graças a Deus, em muitas localidades. Só aconselho a serem perseverantes, participando das reuniões mesmo que haja poucos membros presentes, aí está o segredo, valorizando sempre os que comparecem nas reuniões.  Os animadores e demais membros, dêem bons exemplos de vida cristã, não só participando das missas dominicais, mas também de todas as actividades da Paróquia, não se fechando em si mesmos. Dando oportunidade para inserção de novos membros, aceitando os que estão na liderança no momento.

Fundador: Padre Aurélio Neto